sábado, 27 de janeiro de 2007

Concorda com a despenalização da IVG, se realizada por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimentos de saude legalmente autorizados?

Aqui está mais um excelente texto de mais um jovem que tem participado activamente nesta campnha. Parabéns João.

"Tendo-se começado por referendar o aborto perante graves questões de saúde do feto e/ou da mãe, expostos assim a níveis “intoleráveis de sofrimento ou de qualidade de vida”, pergunta-se hoje se deve ser permitido interromper a vida, agora não por questões de saúde, sequer pouco graves, sem quaisquer limites, apenas por um querer da mulher, aqui e por agora mãe, que, para tanto, não necessita sequer de fundamentar a sua decisão.
Ora, o ovo é a primeira e inquestionável novidade do ser humano.
Desde a sua concepção, o simples corpo humano é bem mais que um somatório de células, um conjunto de órgãos, uma mera funcionalidade.
Ele é inequívoca epifania da vida humana. Deste modo, dado que o desenvolvimento biológico é ininterrupto, e actua sem mutação qualitativa intrínseca, sem que seja necessária uma ulterior intervenção causativa, deve dizer-se que a nova entidade constitui um novo indivíduo humano que, desde o instante da concepção, prossegue o seu ciclo, ou melhor, a sua curva vital. A autogénese do embrião dá-se de forma a que a fase seguinte não elimine a precedente, mas a absorva e a desenvolva segundo uma lei biológica individualizada e controlada. Mesmo quando ainda não é reconhecível a figura humana, há centenas de milhares de células musculares que já fazem pulsar um coração primitivo; há dezenas de milhões de células nervosas que se organizam em circuitos e se dispõem para formar o sistema nervoso de uma determinada pessoa. Portanto, o embrião humano, apesar de se encontrar numa particular fase da sua existência em que a forma humana, tal como somos geralmente levados a pensa-la, ainda não está expressa, não é uma mera potencialidade, mas sim uma substancia viva e individualizada: a partir do momento da fecundação, ele é capaz de conduzir à maturação uma corporeidade que serve para exprimir, como numa epifania histórica e terrena, as incomensuráveis grandezas do espírito humano. De facto, o embrião humano é um ser em que o princípio do desenvolvimento e da mudança está, como em todas as substâncias vivas, no interior da própria substância. É então equívoca e enganadora a afirmação segundo a qual o embrião é um homem em potência; o embrião é em potência uma criança, ou um adulto, ou um velho, mas não é em potência um individuo humano, porque isso já ele é em acto.
Com efeito, tudo isto leva-nos a concluir que o embrião é um indivíduo humano em desenvolvimento e que, por isso, merece o respeito devido a qualquer Homem. Pode-se então dizer que o problema já tem a solução ética e que a pergunta sobre a licitude ou não do aborto provocado já tem a sua resposta.
Contudo, diz-se que o aborto não é tratado “moralisticamente”, “em abstracto”, mas num sentido social e concreto: aquilo que está em discussão não é o facto em si, que todos conhecem, ou considerarão negativo –, mas sim a necessidade de encontrar uma lei que regule a prática que de facto existe e que é a do aborto clandestino.
O aborto clandestino é um aproveitamento económico da mulher em dificuldades que é arriscado para a sua saúde e a sua vida e, para o combater, não existirá outro meio a não ser e regulamentação legal do aborto. Deverão, então, pôr-se em hipótese diversas soluções “preventivas”: a legalização, a regulamentação, a liberalização; mas o que se quer é uma lei, e uma lei destinada a acabar com a praga do aborto clandestino – diz-se – seria considerada uma lei positiva e moralizadora. Chegou-se até ao ponto de afirmar, por entre polémicas, que a oposição à lei seria uma ideologia que se pretende impor a coberto de interesses económicos de certas categorias profissionais (os médicos que praticam abortos clandestinos) ou então destinada a obter consensos partidários sobre problemas de consciência pessoal e individual. Por isso, a batalha para fazer passar a lei tornou-se numa batalha pela liberdade de consciência, uma batalha pelos direitos civis, uma reivindicação da liberdade individual perante um Estado de tipo medieval. Os slogans nesta matéria acumularam-se e vieram somar-se à ausência de reflexão serena e objectiva. Outros, mais cautelosamente, utilizaram a expressão “mal menor”. A legalização seria o mal menor face à difusão dos abortos clandestinos.
Ao deixar de parte, por momentos, o facto de que este tipo de raciocínio esconde, muitas vezes, uma presunção teorética do tipo seguinte: o feto, o embrião é uma parte da barriga da mulher (“A barriga é minha!”) e, por isso, assiste à mulher o direito de decidir se aceita o seu desenvolvimento ou se o interrompe. Deste ponto de vista, é muito mais clara e sincera, ainda que ilícita, a posição do radicalismo.
A constatação, a nível europeu, é que a lei não elimina o aborto ilegal, mas, por vezes, aumenta-o até, e percebe-se bem o motivo, ou a série de motivos, para que isso aconteça: a clandestinidade não depende apenas, nem primariamente, do receio da punição infligida pelo Estado, mas sim de razoes de secretismo familiar e social que a lei não pode tutelar: concepções relacionadas como adultério, concepções em mulheres não casadas e muito jovens. Além disso, uma vez que a lei admita que uma pessoa pode eliminar o feto à luz do dia, deixa de se perceber por que razão não se poderá fazer a mesma coisa no segredo de um consultório ou de uma casa, assim que tenha sido posto de parte o valor moral.
Por fim, a lei impõe formalidades e restrições que nem sempre coincidem com o interesse imediato da mulher ou do casal (os prazos, o registo…). Mas, mesmo admitindo, embora não concedendo, que a lei servisse para combater os abortos clandestinos, transferindo-os para o plano da legalização, daí não derivaria um juízo de licitude, porque não é a lei que faz uma coisa tornar-se moralmente lícita; quando muito, a lei supõe a moralidade de um acto, mas não a constitui. Antes, quando aprova uma conduta moralmente ilícita, a própria lei torna-se negativa e perversora do juízo ético, especialmente num facto de primordial valor como é a vida.  "

João Tété Machado

4 comentários:

Anónimo disse...

Houve cunha para pôr este texto aqui? O facto é que o texto está espetacular, pelo que tenho que dar os meus parabéns e, mais, os meus agradecimentos a quem assim escreve para o lado do Bem. Grande João!

Ana disse...

SIM- à vida e à saúde
Quando passo na rua e observo os cartazes da campanha do NÃO, com o argumento de ir salvar vidas, faz-me perguntar:
- Quantas vidas julgam que irão salvar? ( se é que acreditam, de facto, que irão salvar alguma vida!)
- a única consequência vital do voto NÃO é a morte, a morte das mulheres e crianças vítimas de abortos realizados em condições desumanas.
- Pois com incriminação ou sem ela, as mulheres que, por alguma razão, estão determinadas a interromper a gravidez, irão fazê-lo de qualquer forma, mesmo que arrisquem ser presas, mesmo que arrisquem a vida.
- Se o NÃO ganhar, a única consequência prática é o conforto psicológico de alguns, por continuarmos a viver num país com «moralidade» acima da média europeia, onde mulheres vão a tribunal por terem interrompido voluntariamente a sua gravidez, mas também, num país onde mulheres jovens ficam inférteis ou morrem, devido ao aborto clandestino (tal como nos países subdesenvolvidos).
- Com o NÃO continuaremos no eterno ciclo vicioso: Más condições de vida/ falta de informação = aborto clandestino e suas consequências/ mulheres de parteira em parteira, de aborto em aborto, sem qualquer esclarecimento = custos hospitalares das consequências do aborto clandestino, morbilidade, infertilidade, mortalidade/ crianças abandonadas e maltratadas, por vezes, mortas = aumento da delinquência e da criminalidade / más condições de vida / falta de informação / mau desenvolvimento sócio-económico = aumento do aborto clandestino/ diminuição da taxa de natalidade, etc, etc, etc....

Pelo contrário, se o SIM ganhar, ganha a Vida, não falo, apenas, da vida das mulheres e adolescentes que recorram à IVG (interrupção voluntária da gravidez ou, aborto na linguagem do povo), mas também, pelas IVG / abortos que se podem evitar.
Vejamos o exemplo prático da Alemanha e de outros países desenvolvidos, onde a taxa de abortos tem vindo a descer:
- A mulher ou adolescente que pretende fazer a IVG é avaliada, previamente, em consulta com médico e psicólogo, onde são avaliadas as causas daquela gravidez indesejada e as razões de querer interrompê-la, e onde, também, são dadas alternativas e outras resoluções práticas para o problema em causa. A mulher, o casal ou a família, têm 3 dias para ponderar a sua decisão. Nalguns casos, são aceites as alternativas e desistem da IVG. Nos casos em que a decisão de realizar a IVG é irredutível, esta acontecerá em condições de segurança, com técnicos especializados, por vezes, com um medicamento, dispensando qualquer intervenção invasiva. Em ambas as situações, estas mulheres ou estes casais são, automaticamente, encaminhados para consultas de planeamento familiar, onde cada caso é estudado e tratado, de forma a evitar futuros abortos ou gravidezes indesejadas.
Exemplos:
- Um casal que tem vários filhos e não pretende ou não tem meios de aceitar mais um elemento na família, mas a mulher não pode usar a pílula ou alguns dos métodos mais seguros, devido a ter hipertensão arterial ou outros problemas de saúde, é proposta a laqueação de trompas ou a vasectomia (marido).
- Uma adolescente que iniciou prematuramente, a sua vida sexual, mas não está preparada para ser mãe, é-lhe receitada a pílula contraceptiva e é devidamente informada acerca do seu uso e a forma de evitar as suas falhas.
- A mulher que deseja ter filhos mas não tem condições sócio-económicas para tal, é encaminhada para uma assistente social de forma a encontrar-se alternativas viáveis para os seus problemas e poder, assim, realizar-se como mãe, sem ter de abandonar ou dar os seus filhos.
É por terem optado por uma estratégia inteligente e racional em relação à IVG, que estes países estão a diminuir, progressivamente, a sua taxa de aborto e até, ultimamente, a aumentar a sua taxa de natalidade, pois conseguiram sair do mórbido ciclo vicioso do aborto clandestino e iniciar os passos fundamentais para um melhor desenvolvimento sócio-económico, em que há mais gravidezes planeadas, menos crianças abandonadas, melhor qualidade de vida.
Resta perguntar aos portugueses se preferem continuar «orgulhosamente sós» com a sua vergonhosa taxa de aborto clandestino e mulheres mortas na sequência deste, ou apanhar «o comboio do desenvolvimento», unindo-se aqueles que estão melhores que nós, para acompanharmos a sua evolução?!
Queremos continuar reféns de doutrinas religiosas, dogmas éticos e falsos moralismos, mantendo a aparência de sermos superiores aos outros, mas, na realidade, só ganharmos os primeiros lugares nos maus tractos infantis, na mortalidade materna e infantil, e na prisão de mulheres?!
Pensemos no país que vamos deixar aos nossos filhos. Votemos, convictamente, SIM, pela vida, pela saúde, pela evolução, pelo amor ao próximo!

Nota esclarecedora, em relação a alguns argumentos pouco racionais, mas capazes de iludir os mais incautos: Só pode agradecer por ter nascido quem, efectivamente, nasceu (e que não foi mal tratado pela vida). Aqueles que não nasceram porque foram abortados pela mãe ou pela natureza, não podem ter pena de não ter nascido ou qualquer outro sentimento, pelo simples facto de não terem nascido. Infelizmente, também é necessário elucidar as pessoas que um feto de 10 semanas não sofre, nem elabora qualquer tipo de pergunta ou pensamento, pela simples razão de, nesta fase do desenvolvimento embrionário, não existirem as funções neurológicas que permitam tal
facto.

Ana F. Matos
Médica Cardiologista

*Mãe de duas muito amadas filhas e com a dramática experiência de ver chegar aos hospitais, mulheres e adolescentes aterrorizadas, com receio de serem denunciadas por aqueles que as deveriam tratar e salvar sua humana vida. Por vezes, chegam tarde demais!

Raquel Lopes disse...

Cara Ana:

Por cada aborto que se evita salvam-se duas pessoas, pelo menos, só se a mãe estiver grávida de gémeos!!! 100% das pessoas directamente envolvidas no aborto VIVEM!! Não considera um bom resultado? É óptimo!
Votar sim mata sempre! Portanto, o Não dá a vida, dá soluçoes para as mulheres que não desejam uma gravidez e que a têm. Além disso, votar sim, não vai eliminar o aborto clandestino!vai sempre existir porque às 10 semanas e 1 dia, às 11 semanas, às 12 semanas, etc...as mulheres continuam a ser presas! Continuam a praticar o aborto clandestino.
as mulheres SÓ praticam abortos porque não lhes apresentam outras alternativas e, além disso, abortar é a solução mais fácil! há soluções para o aborto. o ABORTO É UM PROBLEMA! NÃO SE RESOLVE UM PROBLEMA COM OUTRO PROBLEMA!
tudo isto nao é "moralidade" é senso comum!não queremos mortes de inocentes e não queremos o sofrimento das mulheres, por isso, a melhor alternativa é NÃO ABORTAR.

A melhor solução é AMAR!!!

o Estado tem de se responsabilizar por dar às mães as condições necessárias para criarem os seus filhos! a solução para uma mulher com uma vida desumana, como diz, melhora-se com políticas económicas e sociais, não é com a perda dos filhos.

Os custos hospitares vao continuar a existir com o ABORTO LIVRE! até vai ser um custo maior dado que o nº de abortos aumenta, dinheiro esse que «sai do bolso dos contribuintes» que podia ser aplicado, por exemplo, em comparticipações de medicamentos ou de vacinas como a da meningite que são necessários cerca de 500€ para pagar as 3 doses ou até a vacina para o cancro do útero que custa cerca de 480€!
Em que pais estamos nós?

sabe que o número de pedidos de adopção é seis vezes superior ao número de crianças que podem ser adoptadas? Mais uma vez, o Estado não facilita medidas humanas. Um processo de adopção demora largos anos a processar-se! O Estado devia dar prioridade a estas medidas!
E, realmente, a taxa de natalidade diminui com o aumento do nímero de abortos! Isto é o que já acontece em Espanha, França, Alemanha e noutros PAISES CIVILIZADOS! Estes paises estam a morrer aos poucos!Agora, depois de vários anos com leis abortivas, começam a chegar à conclusão que COMETERAM UM ERRO, mas é tarde para mudar, é dificil agora alterar essa tendência!!!

Minha cara, a mulher não beneficia em nada ao matar o seu próprio filho!Antes pelo contrário: vai sofrer imenso com a sua perda porque quer fisica quer psicologicamente, a mãe ja sabia que era mãe, ja sabia que «aquilo que tinha dentro dela» era O SEU FILHO!

Outro facto: na pergunta levada a referendo, NÃO CONSTA QUALQUER TIPO DE ACONSELHAMENTO PRÉVIO!
NENHUM!!!!!!!!!
As mulheres normais, com uma gravidez normal e com um filho normal fazem aborto por uma razão delas! razão essa que ninguem tem de saber.pode mesmo chegar ao ponto de justificar o aborto com a resposta «Porque Sim»!! Portanto, o argumento do aconselhamento médico prévio nao é argumento válido.
NÃO é isto que eu quero para o meu país, para o meu futuro e para o futuro dos meus!!

Eu quero uma sociedade mais humana, mais solidária, capaz de dar RESPOSTAS RACIONAIS AOS PROBLEMAS DOS HOMENS...DAR RESPOSTAS PROPRIAS DA CONDIÇÃO HUMANA!!!

Votar NÃO é promover a SOLIDARIEDADE, a ELEVAÇÃO DA HUMANIDADE, o MODERNISMO e acima de tudo e de qualquer outra coisa é promover o AMOR e mais AMOR quer pela MÃE, quer pelo FILHO!!!

Anónimo disse...

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