Encontramo-nos no dia 10 de Fevereiro de 2007, dia de “reflexão” para o referendo ao aborto-livre de amanhã.
Independentemente do resultado de amanhã (como sabemos todas as sondagens apontam para uma vantagem clara do SIM), gostaria de pôr por escrito a minha reflexão neste blog que durante estas semanas de campanha superou todas as minhas expectativas no que diz respeito à qualidade dos seus textos e ao número de visitas diárias.
Se o SIM ao aborto-livre amanhã vencer será que valeu a pena, se a morte dos seres humanos mais indefesos passar a ser um direito da mulher que os transporta no seu seio se assim “optar”, para quê todo o esforço posto neste blog, nas conversas com amigos, colegas, familiares, as dezenas de horas gastas em campanhas de sensibilização dos portugueses?
Será que valeu a pena? Como lemos num dos flyers das Mulheres em Acção, tudo vale a pena quando a alma não é pequena! Mas, o problema é que, como nos apercebemos durante esta campanha, muitas vezes a alma é pequena… (e já agora, permitam-me a private joke, a letra por vezes também é pequena…)!
Como é óbvio valeu a pena, e muito!
Valeu a pena porque, se compararmos as sondagens publicadas há alguns meses atrás com as actuais, verificamos que a campanha do Não conseguiu ajudar muitos milhares de portugueses a compreender o que está realmente em causa neste referendo e, atrevo-me a afirmá-lo, a valorizar um pouco mais o dom da vida.
Valeu a pena pelas dezenas de episódios isolados das acções de campanha, como a da senhora idosa que tremia de espanto e alegria ao verificar que um adolescente de 16 anos, não só era a favor do direito a nascer, como além disso, o defendia pelas ruas da sua cidadeo. Ou o da senhora com aspecto humilde que, comovida, ofereceu 1 Euro a um dos apoiantes do Não durante mais uma “arruada”.
Valeu a pena porque, como dizia, um amigo meu, muitos dos que se calaram em 1998, em 2007 deram a cara e assumiram publicamente as suas convicções. Como dizia esta mesma pessoa, os “surdos ouviram e os mudos falaram”…
Pesssoalmente, saí bastante enriquecido desta campanha, fruto principalmente das acções de rua, onde tive oportunidade de trocar impressões com muitas pessoas, quase todas elas muito bem intencionadas e ao mesmo muito mal informadas. Uma das conclusões a que cheguei é a de que apenas uma percentagem muito pequena da nossa população consegue elaborar um raciocínio abstracto sem recorrer constantemente ao exemplo das mulheres que morrem no aborto clandestino. Assim, à pergunta “Legalizar o aborto é bom ou mau?” respondem com o argumento de que morrem mulheres ao fazer o aborto clandestino, logo é bom, o que me leva a concluir que se não tivesse morrido nenhuma mulher, legalizar o aborto já seria mau. Muitos outros exemplos de contradições poderiam ser dados, mas apenas queria chegar à conclusão de que o nível educacional da nossa população é muitíssimo baixo, o que a torna vítima fácil do discurso dos políticos sem escrúpulos, capazes de mentir descaradamente se assim o exigir o projecto de destruição moral e humana que têm para a sociedade portuguesa e para o mundo.
Valeu a pena, finalmente, pelas boas gargalhadas que todos demos ao longo desta campanha, geralmente provocadas por palhaçadas dos apoiantes do sim, entre as quais os já aqui comentados disparates e mentiras ditas pelos apoiantes do sim nos debates televisivos a que tivemos oportunidade de assistir e também durante as acções de rua. Assim, em jeito de despedida, deixo-vos a todos algumas pérolas proferidas pelos apoiantes do SIM que tive o privilégio de ouvir nestes últimos dias de campanha:
- “Tajaver, meu, a vida é um contínuo que acaba mas que nunca tem início”, afirmação proferida por um jovem que transportava ao ombro uma elegante mala de senhora
- “Em Espanha não há clínicas de aborto”, absurdo dito por um amigo do jovem anterior
- “As ecografias não mostram o bebé, mostram outra coisa qualquer”, frase proferida por uma apoiante do Sim na estação de Metro da Trindade
- “É preciso legalizar o aborto para logo de seguida legalizarmos o casamento e a adopção pelos gays”, metro da Casa da Música
sábado, 10 de fevereiro de 2007
ABORTO - Dia de Reflexão
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6 comentários:
Peço desculpa, mas eu estava lá e não achei a carteira nada elegante...
Caro pessoal,
Sou o Pedro e tenho 19 anos. Queria dizer isto. Que Deus vos dê muita força a todos vocês! Votemos "NÃO" pelo Direito Natural FUNDAMENTAL de nascer! Votemos "NÃO" por preferirmos a Vida e não estilos de vida! Amanhã lá estaremos!
Pedro Lopes
A única reflexão que faço e vos convido a fazer é a leitura deste pequeno poema de uma santa que foi um dos maiores a fzer o que vocês fazem, ajudar. Ela foi Madre Teresa de Calcutá.
A VIDA é uma oportunidade, aproveite-a.
A VIDA é beleza, admire-a.
A VIDA é felicidade, saboreie-a.
A VIDA é um sonho, torne-a realidade.
A VIDA é um desafio, enfrente-o.
A VIDA é um dever, cumpra-o.
A VIDA é um jogo, jogue-o.
A VIDA é preciosa, cuide dela.
A VIDA é uma riqueza, conserve-a.
A VIDA é amor, goze-o.
A VIDA é um mistério, descubra-o.
A VIDA é promessa, cumpra-a.
A VIDA é tristeza, supere-a.
A VIDA é um hino, cante-a.
A VIDA é uma luta, aceite-a.
A VIDA é uma aventura, arrisque-a.
A VIDA é felicidade, mereça-a.
A VIDA é a VIDA, defenda-a.
Acredito que a Vida vencerá. Parabéns pela luta.
Abraços, Leila Fernandes.
Diga-se que o amigo do jovem anterior, o que disse que não existem clínicas de aborto, é espanhol...
Sim ganhou! A mente dos portugueses evoluiu muito em 9 anos!
Caro João Pedro Neto,
Tenho lido, durante os últimos dias, os teus textos e reflexões. Incluí este blog no conjunto de blogs que consultei para alimentar a minha própria reflexão. Começando sem preconceitos e com uma mente aberta a todos os argumentos de um lado e do outro, fiz um esforço para ler e ouvir de tudo um pouco.
Agora que acabou, quero apenas agradecer-te por me teres ajudado a decidir, apesar de o teu contributo ter sido ao contrário daquilo a que te propunhas. Devo dizer-te que os teus textos foram dos mais radicais que li na defesa do não; o radicalismo não foi explícito, de facto (nota-se que tens algum cuidado em não dizer tudo o que pensas), mas estava embutido nos teus textos (por exemplo, ao teres seleccionado uma frase que se referia à legalização do casamento entre homossexuais como exemplo de um "absurdo"). E o teu radicalismo empurrou-me para o outro lado... tal como, aliás, o radicalismo de alguns apoiantes do "sim", a grande maioria bloquistas, me empurrou para o teu lado, aliás. Apesar de tudo, devo reconhecer que todos estes radicalismos são saudáveis e fazem bem à nossa sociedade, ao espicaçar das mentes muitas vezes nebulosas e mal informadas. Por isso, apesar de não teres sido bem-sucedido no que a mim me diz respeito (bem pelo contrário) quero agradecer-te pelo contributo que deste para que eu decidisse em consciência.
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